Edgar Allan Poe: Medo Clássico | Resenha
- Bárbara Henriques
- 22 de out. de 2017
- 4 min de leitura

“É meia-noite. As asas de um corvo se misturam à escuridão. A velha casa em ruínas observa com janelas que pareciam olhos. Você jura ouvir a voz de alguém que já partiu para o outro lado, bem na hora em que um gato preto cruza seu caminho.
Tudo o que hoje conhecemos como terror começou a ganhar forma na obra de Edgar Allan Poe. Genial e maldito, Poe é considerado o mestre dos mestres da literatura fantástica. Stephen King, Clive Barker ou H.P. Lovecraft são apenas alguns de seus discípulos mais sombrios.
Seguindo o padrão quase psicopata de qualidade que os leitores já esperam da DarkSide® Books, o livro é uma homenagem a Poe em todos os detalhes: da capa dura à nova tradução feita por Marcia Heloisa, pesquisadora e tradutora do gênero, além das belíssimas ilustrações em xilogravura feitas pelo artista gráfico Ramon Rodrigues. E o mais importante: o conteúdo selecionado que recheia as 384 páginas deste primeiro volume de Edgar Allan Poe: Medo Clássico. E que conteúdo!"
Edgar Allan Poe foi e ainda é o Pai do Horror. Atormentado, tenebroso, sádico e sombrio por natureza, suas histórias carregam o tom melancólico que hoje faz tanto sucesso entre os leitores do mais variados gêneros.
Este primeiro volume da coleção definitiva de Poe, lançada pela DarkSide, é uma homenagem à altura do mestre. A antologia tem uma estética maravilhosa que segue a qualidade das obras da editora, com a capa preta em xilogravuras e detalhes dourados em baixo relevo. Dividido em “estações”, a qualidade do material ali dentro faz jus à capa fantástica, a começar pelas introduções da professora dark Marcia Heloisa e do poeta francês Charles Baudelaire.
Quem já leu ao menos um conto de Poe sabe que suas histórias são narradas em 1ª pessoa, sendo este sempre um homem atormentado e fadado ao eterno sofrimento. Ouso dizer que Poe é cada um de seus protagonistas.
Alguns dos contos presentes aqui fizeram tanto sucesso que foram adaptados para o cinema (como o belíssimo Contos Extraordinários), alguns inspiraram séries de TV (incluindo a brasileira Contos de Edgar) e outras foram a fonte para outras grandes obras literárias.
Primeira parada: Espectro da Morte

Nesta estação, a morte é retratada como uma personagem e está sempre ali, rondando os protagonistas, ameaçando-os, colocando-os em constante agonia. O poço e o pêndulo foi uma escolha afiada para abrir este volume, por trazer valor histórico ao se passar durante a Inquisição. O leitor devora o conto para saber qual será a próxima armadilha. A queda da casa de Usher e O baile da Morte Vermelha completam a sufocante e ameaçadora estação.
Segunda parada: Narradores Homicidas

A morte é tema recorrente nas obras de Poe, e aqui não é diferente. Para começar, temos o magnífico O gato preto, minha história favorita do mestre. Curto e um dos mais famosos do autor, o conto vai do terror psicológico ao thriller sangrento. Na sequência, temos A queda da casa de Usher, em que acompanhamos um narrador sem nome numa espécie de casa mal-assombrada, e O coração delator explorando a monstruosidade humana.
Terceira parada: Detetive Dupin

A maioria das pessoas não sabe, mas Sherlock Holmes, Hercule Poirot e até o recente Cormoran Strike da J.K. Rowling beberam da mesma fonte: o detetive francês C. Auguste Dupin de Edgar Allan Poe. Nas histórias do detetive, Dupin e seu amigo narrador sem nome — apelidado carinhosamente por mim de Watson — desvendam os mistérios mais sinistros da França. As únicas três aparições do personagem estão nesta estação.
Quarta parada: Mulheres Etéreas

Chegamos à estação que eu mais queria ler. Não conhecia nenhum dos contos aqui e todos foram uma boa surpresa! As histórias de Berenice, Ligeia e Eleonora são bem parecidas entre si: curtas, apresentam mulheres excepcionalmente belas, peculiares e, como não poderia ser diferente num conto de Edgar, encontram um fim trágico. São todas histórias carregadas de melancolia e gostosas de ler, que transportam o leitor para os anos de 1800.
O conto de Berenice é o mais macabro dos três, onde Poe aborda novamente o terror psicológico e a monstruosidade humana. Eleonora é o mais autobiográfico — e mais otimista — do autor. Já Ligeia foi o que mais gostei dentre os três, tendo construído de forma convincente o amor dos protagonistas, e me transportado com grande facilidade para a pele da vampiresca Ligeia.
Quinta parada: Ímpeto Aventureiro

A estação começa com uma aventura em alto mar em Manuscrito encontrado numa garrafa, a história com o final mais intrigante que já li. A parada segue nos ensinando a desvendar enigmas no ótimo O escaravelho de ouro e termina com “uma história com uma moral” em Nunca aposte sua cabeça com o Diabo.
Sexta parada: O Corvo

Fechando a edição com chave de ouro, temos a obra-prima de Poe em sua plenitude: O Corvo. A estação traz a versão original (um presente para quem lê em inglês), a tradução de Machado de Assis e a de Fernando Pessoa (sendo esta a mais fiel ao original e a que mais gosto), e a Filosofia da composição, texto em que o próprio Poe disseca O Corvo e nos conta como foi o processo de criação e o porquê de cada escolha. Ao contrário do que pensamos, o poema não foi feito por pura intuição: foi tudo friamente calculado, o que faz a obra ainda mais genial.
As últimas páginas contém fotos exclusivas da casa de Poe, acrescendo uma última camada de recheio neste livro já tão saboroso. Edgar Allan Poe: Medo Clássico é uma leitura para os fãs do terror, mas que vai abraçar até aquele leitor que torcia o nariz para o gênero.
Título original: Edgar Allan Poe: Medo Clássico Ano de publicação: 2017 N° de páginas: 384 Editora: DarkSide
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